Últimos dias pela Ilha Sul da Nova Zelândia
Os dias de descanso em Wanaka foram muito importantes para nós, afinal o pedal até lá foi duro e de muitas subidas, nossas pernas precisavam de um descanso maior, e também foi o momento onde pudemos estudar, planejar e organizar melhor a segunda etapa de nossa viagem.
Saímos de Wanaka pela manhã, e o nosso destino era a cidade de Tarras, o caminho até lá foi tranquilo, com uma breve pausa para o nosso almoço, seguimos por uma estrada calma e de poucos carros. A nossa chegada em Tarras foi relativamente cedo e estávamos à procura de algum cantinho para acampar, naquele momento fomos surpreendidos por um Neozelandês perguntando se nós estávamos à procura de carona.
O nosso próximo destino seria o Lindis Pass, uma região de montanhas, que demoraríamos cerca de um dia para atravessar, decidimos aceitar a carona, afinal não tínhamos encontrado um local para passar a noite e seria mais fácil de encontrar algum lugar passando o Pass. Lee um Neozelandês super carismático e de bom coração, nos ofereceu além de uma carona, passarmos dois dias em sua casa com o seu filho Jordan e David um amigo da família. Saímos da vila de Tarras até Oamaru, foram dois dias incríveis, onde pudemos compartilhar com eles, um pouco da nossa história e uma deliciosa receita de Pavlova, uma sobremesa tradicional da Nova Zelândia.
Após esses dois dias, retornamos com Lee até a cidade de Omarama e demos continuidade ao nosso próximo destino, Lake Ohau, seguimos pela ciclo trilha Alps2Ocean, essa trilha liga a região dos Alpes até o Mar e tem no total 300km da trilha mais longa do país. Foi um dia difícil com o vento contra, do momento em que saímos até a chegada no Lake. Por fim tivemos também uma das piores noites da viagem até agora, ventos fortes que pudemos sentir a barraca mexendo por toda a noite, foi um dia e uma noite muito difícil, em que resultou em uma das melhores fotos já tiradas. A determinação e profissionalismo do Felippe sempre ficou acima de tudo, e mesmo após um dia duro, ele conseguiu a foto que ele tanto esperava: A via láctea!
O lago amanheceu lindo, calmo e azul, e começamos o dia pedalando pela ciclo trilha, fizemos um pedal relativamente fácil, com pouco de vento ao nosso favor até a cidade de Twizel, o nosso destino final naquele dia, seria o Lake Pukaki, um local que já tínhamos visitado outras vezes, mas devido à sua beleza única, incluímos novamente em nosso roteiro. Saindo de Twizel seriam apenas 9km até Pukaki, só não estávamos contando com o vilão da nossa viagem, o vento contra atacou mais uma vez. Ainda é muito difícil para eu lidar com os obstáculos que encontrados no caminho, e o vento contra é um deles, é um trabalho psicológico que eu preciso trabalhar, e dessa vez a minha reação não foi diferente, com muita raiva eu pedalei até chegar no Lago.
O Lake Pukaki é de longe um dos lugares mais lindos da Ilha Sul da Nova Zelândia, todas as vezes em que olho para aquele lago, eu perco o ar, é um lugar de uma beleza única, a natureza que vibra. E desta vez não foi diferente, quando eu o avistei mesmo que de longe, aquele sentimento ruim do vento contra, desapareceu em um passe de mágica, e a paz e tranquilidade tomou conta de mim.
Após o dia ruim de pedal e a noite mal dormida em Ohau, nós precisávamos descansar as pernocas, então acampamos por dois em Pukaki, e seguimos em direção ao Lake Tekapo, outro lugar mágico e que temos um carinho enorme. Nós estávamos acampados bem no comecinho de Pukaki, e o caminho até Tekapo seria margeando todo o lago. A cada 100 metros nós parávamos para uma foto, vídeo ou até mesmo para admirar toda aquela imensidão, estava muito difícil deixar aquele lugar, aquela beleza, aquela energia única que Pukaki tem. E foi que depois de 7,5km pedalados, olhamos um para o outro e percebemos que tínhamos que ficar ali mais um dia, precisávamos daquele lugar, daquele momento, encontramos um local perfeito para o nosso camping, e ao som de Gilberto Gil, vivemos de longe um dos melhores dias da nossa viagem, de frente à aquele lindo lago azul turquesa e pra fechar com chave de ouro, o universo contribuiu com fotos maravilhosas para o nosso acervo.
Foram três lindos dias em Pukaki, e seguimos viagem com destino à Tekapo, o coração estava livre e leve, o caminho foi simplesmente maravilhoso, as montanhas e o canal azul de Tekapo nos seguiu durante todo o dia, os olhos não se cansavam de assistir aquele espetáculo de beleza. Chegamos no final do dia e ficamos na pequena cidade de Tekapo por 2 noites.
Lake Tekapo é um sonho para todo o fotografo, que esta em busca das estrelas, devido à sua localização geográfica, que oferece um dos céus mais escuros do mundo. Todas as estações do ano oferecem algum tipo de atividade diferente, sendo assim, a cidade tem um movimento de turistas muito grande durante todo o ano.
Em Tekapo também é possível encontrar o observatório da Universidade de Cantebury, o Mount John. A vista do topo do Mount John é simplesmente única para paisagens durante o dia e de céu aberto durante a noite. No observatório, existem 6 telescópios, incluindo os maiores do país, que podem observar 50 milhões de estrelas por noite. Considerado o principal centro de pesquisa astrológica da Nova Zelândia, ele é operado pela Universidade de Canterbury e possui astrônomos de pesquisa do Japão, EUA e Alemanha.
Após dois dias em Tekapo, seguimos em destino à Christchurch, a nossa última cidade da Ilha Sul. As estradas estavam movimentadas, devido ao feriado de dia do trabalho, e por este motivo decidimos seguir por estradas alternativas.
Essas alternativas, nem sempre são fieis como demonstram ser nos aplicativos de celulares, estávamos à caminho a vila de Arundel, pedalando por uma estrada de piçarra, houve um momento em que cruzamos com dois rios, o primeiro foi tranquilo de atravessar, pois só foi necessário retirar os sapatos para passar com a bicicleta e o segundo foi mais no final do dia, estávamos cansados, o rio era não muito fundo, mas havia uma correnteza relativamente forte, por isso foi preciso remover todos os alforjes, colocar a bicicleta acima do ombro e atravessar. O Felippe fez o trabalho mais “duro” de passar com todas as nossas coisas e eu fiquei do outro lado esperando, a correnteza era forte, eu não conseguiria atravessar sozinha. Foi um trabalho de pelo menos uma hora, de retirar tudo, atravessar e montar a bicicleta novamente, ao fim do dia encontramos um camping em que pudemos descansar e seguir viagem no dia seguinte.
Foram cinco dias seguidos de pedal após a saída de Tekapo, no dia 23 de Outubro chegamos na cidade de Lincoln, subúrbio de Christchurch, e tivemos a nossa segunda experiência como hóspedes pelo Warmshowers. Fomos hospedados por um casal Neozelandês, Bev e Ross, ela trabalha no conselho distrital da cidade e ele é cientista e botânico cultuvador de orquídeas, haviam mudas e orquídeas por toda a casa, um sonho, pra quem é apaixonado por flores. Um casal cheio de energia, com muita experiência em viagem de bike pela Nova Zelândia e países como a Itália, foi uma experiência maravilhosa, poder dividir esses dias com eles e compartilhar a nossa viagem.
Nossos últimos dias em Christchurch foram na casa de um casal de amigos, Alice e Jeremy, nós nos conhecemos através do Warmshowers em 2015, no momento em que eles estavam viajando de bicicleta pela West Coast, eles foram nossos hóspedes em Greymouth, e desta vez trocamos os papéis e fomos recebidos por eles. Duas pessoas incríveis, de uma energia única, um casal que vivencia a cultura da bicicleta no dia-a-dia. Jeremy é padeiro e Alice é chef de cozinha, isso resume um pouco do que foram os três dias em que passamos com eles, muitos pães e delícias preparadas por eles. Pudemos também compartilhar da ultima experiencia vivida por eles na França, uma viagem de bicicleta por três meses, que eles acabaram de voltar.
Viver, viajar, compartilhar momentos e conhecer pessoas, são os que nos move para continuar viajando. A viagem de bicicleta é isso, viver um dia de cada vez, superar seus limites e driblar os desafios, nem todos os dias são iguais, fáceis ou difíceis, é um mix de emoções e sentimentos diferentes à cada dia, é a vida real como ela é.