O Verão chegou a 2100km!
Estávamos na metade do roteiro planejado para a Ilha Norte e o verão deu as boas vindas chegando mais cedo este ano. Devido a gente ter à morado na Ilha Sul, não estávamos acostumados com muito calor, nós percebemos que é muito mais confortável pedalar no frio, do que em dias quente. Devido à esta mudança de temperatura, os nossos hábitos também tiveram que mudar. Começamos a pedalar mais cedo, para aproveitar a brisa da manhã e por volta do meio dia, fazíamos uma pausa maior, para esperar o sol ficar mais fraco.
Saímos de Rotorua relativamente tarde, pois na parte da manhã fomos conhecer o parque Red Woods, com mais de 5600 hectares de floresta, diversas atividades, mountain bike, caminhada e passeios à cavalo. Mas o que mais impressiona são o tamanho, a cor do tronco vermelho e a beleza das árvores nativa daquela região. Árvores centenárias como estas, nos fazem perceber como somos pequenos e como nosso ego é muito grande. A Natureza é incrível e cada vez mais nos distanciamos dela.
Durante o pedal, o ciclo computador marcava quase 36 graus, chegando a derreter o piche das estradas. A Nova Zelândia é um país frio quase todo o ano, porém com as mudanças climáticas nos últimos anos, o verão no país tem ficado cada vez mais quente.
Nosso próximo destino era um camping perto da linda cachoeira de Huka Falls, mais um rio de cor azul piscina para a nossa coleção, a parada na cachoeira foi mais do que obrigatória, uma imensidão de água e beleza natural. Com a mudança das pedaladas, chegamos cedo no nosso destino final e pudemos desfrutar de um banho maravilhoso no rio antes da cachoeira. A primeira vez em que eu, Mariana, tive coragem de entrar em um rio da Nova Zelândia, e apesar do frio, o banho foi revitalizante.
A chegada em Taupo foi bastante movimentada, a cidade realizava a famosa corrida de bicicleta Lake Taupo Cycle Challenge, com categorias de mountain bike com 85km de curso e o de estrada de 160km, um evento lindo, com um total de 10 mil inscritos que parou a cidade. Passamos a manhã e tarde apreciando aquele evento maravilhoso, haviam pessoas de todas as idades, homens, mulheres, crianças e todos os tipos de bicicleta, um dia inspirador. Porém, o mais engraçado, foi ficar rodando a cidade com as nossas bicicletas toda carregada, muitas pessoas, ficavam curiosas com toda aquela imagem e nos abordaram perguntando da onde eramos, para onde íamos, quanto já haviamos pedalado e etc. Os Kiwis são muito simpáticos e hospitaleiros nesse sentido, porém quando estão dirigindo, bom ai já é uma outra história. Risos!
Para fechar o dia com chave de ouro, em Taupo fomos recebidos por um casal super alto astral através do Warmshowers. Roel e Diane receberam a gente por duas noites. Pessoas incríveis, com bastante experiência em viagens de bicicleta, desde a Nova Zelândia até alguns países da Europa. Passamos um final de semana maravilhoso, incluindo um passeio de caiaque no lago, até uma famosa pedra de 14 metros, que foi esculpida durante 4 anos pelos Maoris, inclusive uma escultura feita pelo avô de Diane. Os caiaques são lindos, super bem construídos e com a mais linda história que vimos na vida, a própria Diane que os criou. Um dos seus filhos sofreu um acidente grave, que acabou perdendo o movimento das pernas, por conta disso, eles buscaram uma alternativa para o filho continuar praticando esportes, foi quando a idéia de construir um caiaque passou a existir, uma história inspiradora.
Neste meio tempo em que estávamos em Taupo, surgiu uma oportunidade de trabalho na cidade de Napier, coincidentemente Di e Roel teriam que ir pra lá também e nos ofereceram uma carona. Eles nos falaram que a estrada que liga Taupo e Napier, pode ser bastante movimentada com caminhões pesados, inclusive os que carregam pinheiros, e também tem pouco acostamento. Nossas experiências com caminhões na Nova Zelândia não tem sido muito positiva, por conta disso decidimos evitar essa estrada e aceitar a carona.
Ficamos em Napier por quase uma semana, fazendo um trabalho de foto e vídeo para um Hotel. Durante esses dias pudemos conhecer um pouco sobre a charmosa cidade, que sofreu um grande incêndio e terremoto no ano de 1931, após esse desastre, a cidade foi completamente reconstruída, em apenas dois anos, no estilo Art Deco, se tornando a capital deste movimento. Artistas e Arquitetos de todo o mundo foram convidados para vir para a cidade para ajudar nos projetos e sua reconstrução. Esse trabalho em Napier, nos deu a oportunidade de conhecer mais um casal maravilhoso, Jane e Hugh, são os donos do Hotel que fizemos o trabalho. Eles acreditaram muito no nosso projeto de viagem, seremos eternamente gratos por essa oportunidade e pelo carinho em que recebemos deles.
Após cinco dias em Napier, seguimos em direção à Rota 52, um caminho alternativo sugerido no livro NZ Cycle Trails. Afastado das estradas mais movimentadas, foi uma das melhores escolhas que fizemos, pedalamos em paz e sem preocupação. No segundo dia da Rota 52, chegamos na vila de Porangahau e acampamos pela primeira vez em frente à praia, foram dois lindos dias, em frente à um mar verde, também foi a primeira vez em que eu (Mariana) entrei no mar da Nova Zelândia, pois mesmo morando por dois anos aqui, eu nunca tive coragem de enfrentar o mar gelado. Foi uma das melhores coisas que eu fiz, mergulhei de cabeça e renovei minha energia para esse novo ano que está para começar.
O dia seguinte a partida foi cedo, e logo nos primeiros quilômetros, chegamos à um suposto ponto turístico (Coisas de Nova Zelândia! Risos). A cidade com o maior nome do mundo, é um local no meio do nada, uma região de fazendas. Porém, a cidade perdeu este título recentemente, segundo o site www.fun-with-words.com, para a Thailandia. O nome Maori existe por conta de uma colina perto de Porangahau, Hawkes Bay, que é escrita com 85 ou 92 letras.
O morro costumava ser chamado Taumatawhakatangihangakoauauotamateaturipukakapikimaungahoronukupokaiwhenuakitanatahu (85 letras). Essa é uma combinação das palavras taumata (silhueta da colina), whakatangihanga (musica), koauau (flauta), o (de), tamatea (nome de um chefe maori famoso), turi pukaka (joelhos ossudo), piki maunga (escalada de uma montanha), horo (escorregar), nuku (mover), pokai whenua (viajado), ki (para), tana (sua), tahu (amada).
O site da Internet de Hawkes Bay Tourism diz que Porangahau, na Ilha do Sul da Nova Zelândia, “possui o nome do lugar mais longo do mundo: Tetaumatawhakatangihangakoauaotamateaurehaeaturipukapihimaungahoronukupokaiwhenuaakitanarahu, e entrou oficialmente no Guinness livro dos recordes”. Isso envolve o nome para 92 letras.
Diz que o nome significa “O lugar onde Tamatea, o homem com os joelhos ossudos, escorregou, escalou e engoliu montanhas, conhecido como comedor de terra, tocou sua flauta para o sua amada”. A cultura Maori é incrível e a cada dia que passa, nos apaixonamos mais por ela.
Curiosidades e divertimento de estrada à parte, não sabíamos que este seria, um dos dias mais difíceis de se pedalar na Ilha Norte. Além do forte calor, enfrentamos muitas subidas inclinadas, e outras não tão inclinadas assim, um eterno sobe e desce, somando 1100m de ascensão durante 70km . Esse foi o nosso recorde de quilômetros pedalados, comparado com os dias anteriores. Nosso ritmo é devagar, uma média de 40 à 50km por dia, mas neste dia especificamente, estávamos no meio do nada, tínhamos a quantidade de comida contada e precisávamos nos manter fiel ao plano de pedalada.
Chegando em Pongaroa no fim de tarde, estávamos à procura de algum local para passar a noite e dormir em um cama, porém não havia nenhum tipo de acomodação na pequena cidade, isso mesmo nenhum lugar. Paramos em um pub para jantar e beber uma cerveja bem gelada, pois depois de um dia longo e quente, nós merecíamos.
Passamos a noite em um Domain, um espaço de eventos da cidade que passa a ser utilizado como camping, quando não está em uso. Dormimos na companhia e aos cantos de ninar das ovelhinhas, e foi assim também na noite seguinte no domain de Alfredton. Essas foram as nossas últimas experiências de acampar na Nova Zelândia, pois até o destino final, fomos recebidos por pessoas queridas do Warmshowers na cidade de Masterton pelo George, e Martinborough Jude e Bruce.
O nosso destino final na Ilha Norte era a capital Wellington, e até lá o caminho foi tranquilo, com praticamente descida suaves. Restava somente uma grande subida, para chegar na cidade de Upper Hutt, à 35km de Wellington, via a famosa ciclo trilha Rimutaka, com total 60 km de distância, esse caminho era uma antiga linha de trem.
Com o objetivo de criar uma rede de linhas de trens ao redor do país, atrair imigrantes e ajudar no desenvolvimento econômico do país, um projeto audacioso surgiu 1871. Porém, devido o orçamento limitado em abrir um túnel cortando a cadeia de montanhas de Rimutaka, foi desenvolvido um projeto ambicioso para vencer a alta inclinação da sua face oeste, foram necessários trilhos e um trem específico para poder vencê-la, com um sistema de prensa que puxava a comitiva acima. Em 1880 um grave acidente aconteceu, quando um dia de vento forte, empurrou o trem para fora da única ponte no trecho chamado de sibéria. Apesar de tudo, a Rimutaka Railway permaneceu ativa por 77 anos, sendo extinta pela falta de atualização daquele sistema, até então inovador, e pela depressão econômica após as duas guerras mundiais.
O dia amanheceu nublado, com vento forte e contra nós, mas tínhamos que seguir em frente, pois tínhamos uma família do Warmshowers à nossa espera. Foi sem dúvida, o dia de vento contra mais forte até este momento, a trilha era de pirraça, com subida constante, mas muito tranquila, o que dificultou e muito foi o vento, com rajadas fortes, tínhamos que nos segurar com força para a bicicleta não cair. O Felippe teve duas quedas, e uma delas foi devido ao vento contra, ele perdeu o equilíbrio, a outra foi em um dos túneis que tivemos que passar, pois ele tive a brilhante ideia de filmar e pedalar ao mesmo tempo, dentro de um túnel escuro. Risos!
Quase no final da subida, conseguimos um local protegido do vento, fizemos uma pausa para descansar e fazer um lanche. A parte da descida foi mais tranquila, até parecia que não estava mais ventando. Chegamos em Upper Hutt no fim do dia e fomos recebidos pela Shelly e Baden, uma família incrível que acabava de ter um novo membro no time bicicleteiro, o pequeno Clifford com apenas 3 meses. Apesar de todo o trabalho que é ter um recém nascido, eles nos receberam maravilhosamente bem, pudemos compartilhar boas risadas, conversas, receitas e experiências de viagens de bicicleta. A Shelly e o Baden recém terminaram sua viagem de bicicleta pela América do Sul e Central.
Ficamos por dois dias em Upper Hutt e seguimos em direção à Wellington, tivemos a oportunidade de ficar em dois Warmshowers diferentes, pois a nossa estadia lá foi de uma semana, precisávamos de um tempo, para organizar as bicicletas e os alforjes, e também comemorar o meu aniversário. Foi uma semana incrível, conhecemos pessoas maravilhosas, principalmente os nossos últimos anfitriões do Warmshowers, Ruth, Matt e o Stuart.
Gostaríamos de deixar registrado aqui, mais uma vez o nosso agradecimento à todas as pessoas que de alguma maneira cruzou o nosso caminho, durante a nossa jornada Nova Zelândia. Foi aqui que tudo começou, foi onde tivemos a oportunidade de começar a viver esse grande sonho. A Nova Zelândia nos recebeu de braços abertos por dois anos, e seremos eternamente gratos, por tudo.
Agora é hora de voar, literalmente! É hora de conhecer outro país, outra cultura, outros costumes, é hora de pedalar pela Austrália.